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18 de dezembro de 2022

DOS DEVERES E OBRIGAÇÕES DE TODOS NÓS

 

No discurso que proferiu quando recebeu o prémio Nobel da Literatura, em 1998, José Saramago falou do seu desejo de fazer do mundo um lugar melhor, e da necessidade de firmarmos um conjunto de deveres éticos que todos os seres humanos deveriam respeitar. Deveres e obrigações que tomaram forma numa carta redigida por um grupo de trabalho da Universidade Autónoma do México.

O documento, inspirado no discurso de Saramago, foi elaborado por intelectuais e académicos de várias áreas e disciplinas, e incide na responsabilidade social e individual, associada aos direitos consignados na Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Estes são os principais pontos desta notável Carta dos Deveres e Obrigações do Homem, que a todos deveria obrigar-nos, no nosso anseio por um mundo melhor:
  • Obrigação de erradicar a fome e de não desperdiçar comida.
  • Obrigação de erradicar o analfabetismo e de oferecer educação de qualidade.
  • Obrigação de partilhar o conhecimento técnico e a perícia, para promover a saúde integral.
  • Obrigação de comportamento rigoroso e respeitoso, ao exercer a liberdade de expressão.
  • Obrigação de utilizar com eficiência a energia e as medidas destinadas à poupança energética
  • Obrigação de eliminar a desigualdade extrema nas sociedades e de propiciar a igualdade social.
  • Obrigação de hospitalidade para com emigrantes e refugiados.
  • Obrigação de dirigir o conhecimento científico para a preservação da vida.
  • Obrigação de respeitar o meio ambiente e de contribuir para a sua limpeza, manutenção e regeneração
  • Obrigação de respeitar o habitat e a forma de vida dos animais não humanos.
Informação recolhida em:
http://verne.elpais.com/verne/2015/10/17/articulo/1445091220_052404.html

25 de novembro de 2018

O ANO DA MORTE DE RICARDO REIS PELA COMPANHIA A BARRACA

Outra apreciação crítica do espetáculo, integrado no Books & Moovies de Alcobaça, a que os nossos alunos assistiram. 



A peça “1936, Ano da Morte de Ricardo Reis”, baseada na obra homónima de José Saramago, procura ser fiel à essência do livro, mas adaptando-o ao drama de uma forma pouco vulgar. 

Apesar da dificuldade deste desafio, A Barraca conseguiu, de forma excecional, tornar um romance extenso, denso e bastante pormenorizado, em algo divertido, estimulante e cativante para o público juvenil. 

A forma como as personagens foram trabalhadas fez com que o público ficasse “preso às cadeiras”. Primeiramente, tornar Fernando Pessoa numa personagem cómica, ou até mesmo ridícula, contrastando com a ideia de que o poeta era um indivíduo sério e intocável, que não podia ser alvo desta irreverência, provocou imensas gargalhadas à plateia. De seguida, Ricardo Reis, com o seu ar exuberante perante as personagens femininas, com o seu ar de passeante nos momentos de deambulação pela cidade, e ainda de “criancinha”, quando Fernando Pessoa aparecia para o alertar e aconselhar, conferiu à peça uma certa leveza. 

Por outro lado, a existência de um cenário permanente trouxe algumas dificuldades na separação de cenas, exigindo, assim, a quem estava a ver, uma maior atenção e alguma capacidade de perceção para conseguir entender a história de forma mais clara. 

Em síntese, a peça apresentada pela companhia A Barraca revela uma faceta mais divertida do romance de Saramago, conservando alguns pormenores da obra e acrescentando fatores que permitiram ao público uma maior facilidade na compreensão do romance. 


Francisco Rocha, 12.ºA

16 de outubro de 2018

José Saramago em cena


1936 – O ANO DA MORTE DE RICARDO REIS

Cineteatro de Alcobaça
Books & Moovies - 2018
A adaptação ao teatro de uma obra literária de tamanha dimensão como “O ano da morte de Ricardo Reis”, de José Saramago, não é certamente fácil. Ainda assim, o grupo teatral “A Barraca”, fundado há 42 anos, fez os possíveis para o conseguir.

Do meu ponto de vista, para quem não conhecer minimamente a obra, a peça de teatro ficará um pouco aquém das expetativas, não querendo com isto dizer que é necessário ter lido o romance na íntegra para entender e apreciar a peça. No entanto, para tirar um melhor partido do espetáculo, é fundamental procurar conhecer previamente um pouco da história que o livro narra, lendo, por exemplo, a sua sinopse.

No que se refere às personagens, destaca-se a de Fernando Pessoa. Apesar da excelente interpretação do ator, a personagem foi retratada de forma um pouco exagerada e demasiado extrovertida, com um riso mecânico e um certo ridículo, o que não vai ao encontro do Pessoa reservado e discreto que todos esperaríamos. Contudo, creio que a forma como a personagem foi apresentada tem como objetivo divertir o público, dando um lado cómico à peça. 

Já a personagem de Lídia, interpretada por Sónia Barradas, é apagada e passa demasiado rapidamente em cena, sendo notório que o seu envolvimento com Ricardo Reis não é apresentado com a importância que tem na obra, passando quase despercebido em comparação com o que é descrito no livro.

Em suma, tendo em consideração os aspetos mencionados, esta peça de teatro revela um lado mais divertido do romance de Saramago, conservando, embora com pouco detalhe, o essencial do enredo da obra.

Inês Rosa Marques, 12ºA

18 de outubro de 2015

Carta dos Deveres e Obrigações do Homem


No discurso que proferiu quando recebeu o prémio Nobel da Literatura, em 1998, José Saramago falou do seu desejo de fazer do mundo um lugar melhor, e da necessidade de firmarmos um conjunto de deveres éticos que todos os seres humanos deveriam respeitar. Deveres e obrigações que tomam agora forma numa carta redigida por um grupo de trabalho da Universidade Autónoma do México.

O documento, inspirado no discurso de Saramago, foi elaborado por intelectuais e académicos de várias áreas e disciplinas, e incide na responsabilidade social e individual, associada aos direitos consignados na Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Estes são os principais pontos desta notável Carta dos Deveres e Obrigações do Homem, que a todos deveria obrigar-nos, no nosso anseio por um mundo melhor:
  • Obrigação de erradicar a fome e de não desperdiçar comida.
  • Obrigação de erradicar o analfabetismo e de oferecer educação de qualidade.
  • Obrigação de partilhar o conhecimento técnico e a perícia, para promover a saúde integral.
  • Obrigação de comportamento rigoroso e respeitoso, ao exercer a liberdade de expressão.
  • Obrigação de utilizar com eficiência a energia e as medidas destinadas à poupança energética
  • Obrigação de eliminar a desigualdade extrema nas sociedades e de propiciar a igualdade social.
  • Obrigação de hospitalidade para com emigrantes e refugiados.
  • Obrigação de dirigir o conhecimento científico para a preservação da vida.
  • Obrigação de respeitar o meio ambiente e de contribuir para a sua limpeza, manutenção e regeneração
  • Obrigação de respeitar o habitat e a forma de vida dos animais não humanos.
Informação recolhida em:
http://verne.elpais.com/verne/2015/10/17/articulo/1445091220_052404.html

24 de junho de 2015

Pela internet



Um blogue inteiramente dedicado ao nosso único Nobel da literatura e que hoje divulgamos.

Dele retirámos duas citações, por sua vez extraídas do livro A espiritualidade clandestina de Saramago, de Manuel Frias, vencedor do Prémio de Ensaio Eduardo Prado Coelho no ano de 2015. 

Acerca da obra de Saramago, do imperativo humanista que lhe assiste e da cumplicidade que se estabelece entre ela e os seus leitores, Manuel Frias destaca:

"a generosa promoção da sageza e ética" 

"a expressão intensa da verdade (...) como descoberta dinâmica do duplo princípio: o do conhecimento da vida e o da negação de uma existência agrilhoada."

1 de junho de 2015

Blimunda - porquê este nome?

Recuperando, em proveito dos nossos alunos do 12º Ano, algumas entradas das fundações deste blogue:

Muitas vezes me perguntei: porquê este nome? Recordo-me de como o encontrei, percorrendo com um dedo minucioso, linha a linha, as colunas de um vocabulário onomástico (…)

Nunca, em toda a minha vida, nestes quantos milhares de dias e horas somados, me encontrara com o nome de Blimunda, nenhuma mulher em Portugal, que eu saiba, se chama hoje assim. E tão-pouco é verificável a hipótese de tratar-se de um apelativo que em tempos tivesse merecido o favor das famílias e depois caísse em desuso: nenhuma personagem feminina da História do meu país, nenhuma heroína de romance ou figura secundária levou alguma vez tal nome, nunca estas três sílabas foram pronunciadas à beira duma pia baptismal ou inscritas nos arquivos do registo civil. Também nenhum poeta, tendo de inventar para a mulher amada um nome secreto, se atreveu a chamar-lhe Blimunda. 

Tentando, nesta ocasião, destrinçar aceitavelmente as razões finais da escolha que fiz, seria uma primeira razão a de ter procurado um nome estranho e raro para dá-lo a uma personagem que é, em si mesma, estranha e rara. De facto, essa mulher a quem chamei Blimunda, a par dos poderes mágicos que transporta consigo e que por si sós a separam do seu mundo, está constituída, enquanto pessoa configurada por uma personagem, de maneira tal que a tornaria inviável, não apenas no distante século XVIII em que a pus a viver, mas também no nosso próprio tempo.

Ao ilogismo da personagem teria de corresponder, necessariamente, o próprio ilogismo do nome que lhe ia ser dado. Blimunda não tinha outro recurso que chamar-se Blimunda. Ou talvez não seja apenas assim. Regressando ao vocabulário, e mesmo sem recair em excessos de minúcia, posso observar como abundam os nomes de pessoa extraordinários e extravagantes, que ninguém hoje quereria usar e antes só excepcionalmente, e contudo não foi a nenhum deles que escolhi: rareza e estranheza não seriam, afinal, condições suficientes. 

Que outra condição, então, que razão profunda, porventura sem relação com o sentido inteligível das palavras, me terá levado a eleger esse nome entre tantos? Creio que sei hoje a resposta, que ela me acaba de ser apontada por esse outro misterioso caminho que terá levado Azio Corghi a denominar Blimunda uma ópera extraída de um romance que tem por título Memorial do Convento: essa resposta, essa razão, acaso a mais secreta de todas, chama-se Música. Terá sido, imagino, aquele som desgarrador de violoncelo que habita o nome de Blimunda, profundo e longo, como se na própria alma humana se produzisse e manifestasse, que me levou, sem nenhuma resistência, com a humildade de quem aceita um dom de que não se sente merecedor, a recolhê-lo, num simples livro, à espera, sem o saber, de que a Música viesse recolher o que é sua exclusiva pertença: essa vibração última que está contida em todas as palavras e em algumas magnificamente.


Saramago, in libreto da ópera Blimunda, Teatro Nacional de São Carlos, 1991

20 de novembro de 2013

Blimunda #18


Já está online o número 18 da revista Blimunda que pode ser descarregado aqui.

Deste número, a Fundação Saramago destaca:
  • as entrevistas a dois jovens autores em língua portuguesa, Afonso Cruz e Ondjaki; 
  • um texto de Jeronimo Pizarro sobre literatura de viagens, com passagens por Fernando Pessoa, Camilo Pessanha e Dinis Machado; 
  • os 130 anos da Biblioteca de São Lázaro, em Lisboa;
  • a recente edição portuguesa de Como Apanhar uma Estrela, de Oliver Jeffers; 
  • o centenário de Camus, através de um texto de Juan José Tamayo;
  • e, como se celebram os 91 anos de José Saramago, uma mostra das dedicatórias que outros escritores deixaram gravadas em livros que ocupam as prateleiras da biblioteca Saramago. 
Boas leituras!

17 de novembro de 2013

Entrevista a José Saramago, 1989

Em 1989, José Saramago foi entrevistado por Rentes de Carvalho - escritor e professor de Literatura Portuguesa, residente na Holanda desde 1956 - que nos dá conta dessa entrevista no seu blogue, Tempo Contado. 

Um quarto de século volvido, o diálogo entre os dois escritores mantém todo o interesse. Ora leiam:

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Aos sessenta e seis anos José Saramago vive confortavelmente a dois passos da residência oficial do primeiro-ministro, sorri divertido quando lhe pergunto qual é a sensação de, quase do dia para a noite, se ver liberto de tantas pressões e ser considerado como the grand old man das letras portuguesas: 


«Se o êxito tivesse vindo quando eu tinha uns trinta ou quarenta, anos, é possível que, depois de viver muito tempo com semelhante aura, eu estivesse imbuído dum sentimento de importância e caminhasse pelas ruas de Lisboa com um ar de patriarca e glória nacional. Daqui a cinco ou dez anos, se tiver tempo para escrever o que ainda penso escrever, talvez o possam dizer. Mas hoje não tiro daí nenhum sentimento de vaidade ou de orgulho, não me tomo por importante, e quando ouço afirmações tão simpáticas como essa, a minha tentação, sinceramente, é olhar para o lado, a ver se estão a falar com outra pessoa.»


Quais são, na sua opinião, as circunstâncias que promoveram em Portugal o actual interesse do público pelo realismo mágico e o romance histórico?
«Eu não sei se haverá de facto um interesse do público orientado para essas duas áreas, se exactamente é verdade existir esse interesse. O que sim, acontece, é um fenómeno bastante mais geral e eventualmente positivo: depois do 25 de Abril, uma data que vai ficar como uma inevitável referência no plano cultural e no plano literário, aconteceu qualquer coisa que é novo nesta terra, e que foi o súbito - porque efectivamente foi como que uma espécie de explosão, de erupção - o súbito interesse do público português pelos seus escritores. Quer dizer: não é que antes não existisse um interesse, mas digamos que a atenção do público se dispersava mais pelas obras traduzidas. Quando dois ou três anos depois começaram efectivamente a aparecer obras, e refiro-me especialmente ao romance, houve de facto como que uma descoberta dos romancistas portugueses por parte dos leitores portugueses, e que, julgo eu que tem que ver muito com - eu não quero cair na velha questão da perda da identidade nacional, o que creio ser um falso problema - tem a ver, enfim, com o regresso à pátria, ao nosso ponto de partida. Parece notar-se desde então como que uma espécie de regresso do interesse dos portugueses a si próprios. Quer dizer: passaram a interessar-se por si próprios e, consequentemente, passaram a interessar-se mais pela sua história e pela sua cultura, como uma descoberta de si mesmos no plano histórico e cultural geral.»


21 de junho de 2013

Ainda Blimunda

Blimunda é ao mesmo tempo uma figura de vitral e uma criatura humaníssima e inesquecível. Sonhando-a e sonhando-se nela, José Saramago criou uma insólita figura da nossa ficção, uma das raras presenças míticas do imaginário contemporâneo. Excluída e predestinada para a salvação do homem, Blimunda é uma Eva sem pecado, a natural companhia e companheira da sua aventura obstinada em converter a Terra à sua vocação paradisíaca. Através dela retoma Saramago o mito de Orfeu às avessas: é Eurídice que desce aos infernos para resgatar as almas, é ela que não pode voltar-se quando investida na sua missão para que Baltasar não se sinta privado da sua força de homem, da sua vontade e do seu espírito. 

Ela conhece o mistério de Baltasar, podia apoderar-se dele se quisesse, mas o seu amor mantém-no na ilusão da sua masculina opacidade. Só se servirá desse poder para subtrair Baltasar ao seu destino de condenado, arrancando-o da fogueira para o sepultar no seu próprio coração. 

A heroína do Memorial não é uma personagem trágica, embora esteja envolta em acontecimentos que a dilaceram e a obrigam a ser a Judite do seu povo maldito. Desde sempre ela está salva, ela é feiticeira e santa indistintamente. É a testemunha e a cúmplice da tragédia dos outros, de Bartolomeu de Gusmão e de Baltasar. Do primeiro, guardará o sonho de voar tornando-se ela mesma a Voadora, do segundo a vida toda, roubando-o à morte. 

Ser silencioso, para ela vão todas as complacências do seu criador, por ela se interrompe ou distrai a evocação das cruezas, abusos, escândalos humanos e divinos de quem pode e manda nesse Portugal de sol menos ardente que as suas superstições, deixando espraiar-se o canto profundo, a torrente lírica que esse silêncio recobre.

Eduardo Lourenço, In libreto da ópera Blimunda, Teatro Nacional de São Carlos, 1991


Uma explicação:

Em 1991, o Teatro Nacional de São Carlos levava à cena «Blimunda», ópera lírica em três actos, do compositor italiano Azio Corghi, inspirada no Memorial do Convento. Como pode ler-se na Revista de Artes e Letras Lusófonas, do Instituto Camões, Saramago era o autor português mais conhecido em Itália, depois de Pessoa. Refere o artigo a existência de um grupo de intelectuais italianos que promovia encontros em torno de Saramago e da sua obra. Foi num destes encontros que o escritor conheceu o compositor Arzio Corghi, o qual lhe confessou o seu desejo de contar a história, inspirada na atmosfera do Memorial, de um Orfeu no feminino. A resposta de Saramago baptizaria a ópera: «Chamá-la-emos Blimunda». O espectáculo, que estreou no prestigiado Teatro Lírico de Milão, percorreu os principais teatros líricos da Europa.


20 de junho de 2013

Blimunda: porquê este nome?

Muitas vezes me perguntei: porquê este nome? Recordo-me de como o encontrei, percorrendo com um dedo minucioso, linha a linha, as colunas de um vocabulário onomástico (…)

Nunca, em toda a minha vida, nestes quantos milhares de dias e horas somados, me encontrara com o nome de Blimunda, nenhuma mulher em Portugal, que eu saiba, se chama hoje assim. E tão-pouco é verificável a hipótese de tratar-se de um apelativo que em tempos tivesse merecido o favor das famílias e depois caísse em desuso: nenhuma personagem feminina da História do meu país, nenhuma heroína de romance ou figura secundária levou alguma vez tal nome, nunca estas três sílabas foram pronunciadas à beira duma pia baptismal ou inscritas nos arquivos do registo civil. Também nenhum poeta, tendo de inventar para a mulher amada um nome secreto, se atreveu a chamar-lhe Blimunda. 

Tentando, nesta ocasião, destrinçar aceitavelmente as razões finais da escolha que fiz, seria uma primeira razão a de ter procurado um nome estranho e raro para dá-lo a uma personagem que é, em si mesma, estranha e rara. De facto, essa mulher a quem chamei Blimunda, a par dos poderes mágicos que transporta consigo e que por si sós a separam do seu mundo, está constituída, enquanto pessoa configurada por uma personagem, de maneira tal que a tornaria inviável, não apenas no distante século XVIII em que a pus a viver, mas também no nosso próprio tempo.

Ao ilogismo da personagem teria de corresponder, necessariamente, o próprio ilogismo do nome que lhe ia ser dado. Blimunda não tinha outro recurso que chamar-se Blimunda. Ou talvez não seja apenas assim. Regressando ao vocabulário, e mesmo sem recair em excessos de minúcia, posso observar como abundam os nomes de pessoa extraordinários e extravagantes, que ninguém hoje quereria usar e antes só excepcionalmente, e contudo não foi a nenhum deles que escolhi: rareza e estranheza não seriam, afinal, condições suficientes. 

Que outra condição, então, que razão profunda, porventura sem relação com o sentido inteligível das palavras, me terá levado a eleger esse nome entre tantos? Creio que sei hoje a resposta, que ela me acaba de ser apontada por esse outro misterioso caminho que terá levado Azio Corghi a denominar Blimunda uma ópera extraída de um romance que tem por título Memorial do Convento: essa resposta, essa razão, acaso a mais secreta de todas, chama-se Música. Terá sido, imagino, aquele som desgarrador de violoncelo que habita o nome de Blimunda, profundo e longo, como se na própria alma humana se produzisse e manifestasse, que me levou, sem nenhuma resistência, com a humildade de quem aceita um dom de que não se sente merecedor, a recolhê-lo, num simples livro, à espera, sem o saber, de que a Música viesse recolher o que é sua exclusiva pertença: essa vibração última que está contida em todas as palavras e em algumas magnificamente.


Saramago, in libreto da ópera Blimunda, Teatro Nacional de São Carlos, 1991

18 de junho de 2013

Terceiro aniversário da morte de Saramago



Lembrando Saramago - e em celebração da sua liberdade de pensamento - algumas frases do escritor, retiradas de entrevistas, declarações e artigos na comunicação social. Todas foram recolhidas no site do Citador:
  • "Qualquer idade é boa para aprender. Muito do que sei aprendi-o já na idade madura e hoje, com 86 anos, continuo a aprender com o mesmo apetite.
  • "Se não me interessar pelo mundo, este baterá à minha porta pedindo-me contas."
  • "Sabemos muito mais do que julgamos, podemos muito mais do que imaginamos."
  • "Só o amor nos permite conhecermo-nos."
  • "Sente-se uma insatisfação, sobretudo dos jovens, perante um mundo que já não oferece nada, só vende!"
  • "A única revolução realmente digna de tal nome seria a revolução da paz, aquela que transformaria o homem treinado para a guerra em homem educado para a paz porque pela paz haveria sido educado. Essa, sim, seria a grande revolução mental, e portanto cultural, da Humanidade. Esse seria, finalmente, o tão falado homem novo."
  • "Nem a arte nem a literatura têm de nos dar lições de moral. Somos nós que temos de nos salvar, e isso só é possível com uma postura de cidadania ética, ainda que isto possa soar antigo e anacrónico."
  • "A História é tão pródiga, tão generosa, que não só nos dá excelentes lições sobre a actualidade de certos acontecidos outrora como também nos lega, para governo nosso, umas quantas palavras, umas quantas frases que, por esta ou aquela razão, viriam a ganhar raízes na memória dos povos."

Deixamos também a ligação a partir da qual se pode descarregar a Blimunda 13, revista da Fundação Saramago. 


3 de março de 2013

A maior flor do mundo

Um filme de animação baseado num conto infantil escrito por José Saramago.


17 de fevereiro de 2013

O visionário José Saramago


A Fundação José Saramago remete-nos para um artigo de Cyro de Mattos no qual são referidos grandes mestres da prosa de ficção do século XX que contribuiram para libertar a narrativa da sua estrutura tradicional: Marcel Proust, James Joyce, William Faulkner, Aldous Huxley, Guimarães Rosa, José Cardoso Pires, José Saramago... 

De Saramago e Cardoso Pires, o artigo destaca o "ritmo de modernidade" que ambos impuseram à literatura portuguesa da segunda metade do século XX. E prossegue analisando o processo narrativo de Saramago e o modo como expõe a interioridade das personagens e a sua condição face ao mundo. 

O artigo, intitulado O visionário José Saramago, é interessante e pode ser lido aqui.